Data: 20/09/2017
Veículo: O Estado
Ainda inspirada na mesa redonda realizada ontem à tarde no Seminário Cidade, Memória e os Desafios do Modo de Viver, na qual representava a Associação Profissional dos Geógrafos (APROGEO) e também “o lado feminino da força” e, cujos participantes além de mim eram grandes especialistas sobre Patrimônio histórico-cultural e/ou sobre Cidades tais como: Romeu Duarte, Inácio Arruda, Robledo Valente, Custódio Santos e Campelo Costa, resolvo escrever um pouco sobre MEMÓRIA AMBIENTAL.
Sim, memória ambiental aparentemente é o que tem faltando à quase todos que consideram natural a desnaturalização em cidades.
Podemos e devemos buscar preservar nosso patrimônio ambiental/paisagístico concedendo chancela a uma ou duas árvores centenárias existentes em uma praça ou rua da cidade, mas isso somente terá valor se ao olhar para a referida árvore, lembrarmos que tudo ao redor dela um dia já foi floresta e hoje só existe concreto.
E não, isso não pode ser considerado algo banal.
Enquanto fazemos de conta “que não é com a gente”, todos os dias nossa cidade perde natureza. Todos os dias os grupos ambientalistas são obrigados a protestar contra uma aberração realizada por gestores que deveriam estar defendendo nosso patrimônio natural.
Ontem na mesa redonda, enfatizou-se a importância do patrimônio, da memória e da vida. E inspirado nisso, o professor Romeu Duarte propôs o compromisso de se buscar a chancela para as Dunas do Cocó (o que imediatamente já complementei sugerindo que também fosse realizado para as Dunas da Sabiaguaba “antes que seja tarde”).
E por que não?
Complementando essa abordagem, fiz questão de lembrar a todos também que embora a sociedade sofra de “amnésia ambiental”, e que vivenciamos um verdadeiro “obituário do patrimônio” (como dito por Campelo Costa), a NATUREZA TEM MEMÓRIA, e essa “memória” se manifesta por meio do seu sistemismo.
A tal memória da natureza nos coloca em situação de vulnerabilidade permanente (sobretudo em cidades litorâneas), pois mesmo que rios sejam canalizados ou soterrados para que seja construída uma via, as chuvas buscarão aquele mesmo caminho em dias de precipitação, e o resultado serão ruas alagadas. [Tente trafegar pela Avenida Duque de Caxias em dia de chuva e você estará tentando navegar no Riacho Pajeú]
Mesmo que dunas móveis sejam cortadas por estradas (como no caso do Parque da Sabiaguaba), elas continuarão sua rota natural, inclusive passando por cima da estrada.
Lembremos sempre que, como dizia Milton Santos, o espaço urbano é composto por FORMA, FUNÇÃO, ESTRUTURA, PROCESSOS E TOTALIDADE.
Já está passando da hora de começarmos a compreender e considerar a ESTRUTURA E OS PROCESSOS (da base Natural) como pilares de planejamento e da gestão ambiental. E compreender que a cidade é global não somente no sentido econômico, mas também no sentido dos processos ambientais. [Olha a tal da TOTALIDADE aí!]
Sobre isso, que tal começar a ler e se aprofundar no conteúdo proposto pelo Plano Fortaleza 2040? Que tal começar a compreender o porque de PLANEJAR de forma disruptiva e descompromissada com “interesses não coletivos”?
Recomendo a leitura porque já tem gente tentando distorcer todo um trabalho sério, técnico, participativo e dedicado. Leia e tire suas próprias conclusões.
Quanto a Sabiaguaba, super recomendo uma visita ao Parque das Dunas (tem trilhas guiadas pelo pessoal do VerdeLuz) e também uma visita ao manguezal com o grupo do Museu Natural do Mangue.
Quem sabe você também desperta sua memória ambiental!?
Para saber mais:
Sobre o Plano Fortaleza 2040
Sobre o VerdeLuz
Sobre o Museu Natural do Mangue
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